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Desmatamento, ocupação desenfreada, falta de planejamento e perdas estão entre as causas destacadas por especialistas

No aniversário de 461 anos da cidade de São Paulo, pouco se tem para comemorar (mesmo que chova), levando em conta o tamanho do problema de falta de água. Já no uso do volume morto do Sistema Cantareira e com outros reservatórios como o Alto Tietê e o Guarapiranga entrando em colapso, a falta de água é iminente na maior metrópole do Brasil.
Presidente da Sabesp, Jerson Kelman admitiu, no dia 15 de janeiro, que o Sistema Cantareira, que abastece 6,5 milhões de pessoas pode secar agora em março. Um dia antes, o governador Geraldo Alckmin afirmou pela primeira vez que a população do Estado vive sob racionamento de água. Logo depois, Alckmin disse que havia sido mal interpretado por jornalistas.
Inicialmente, a crise foi justificada por conta da falta de chuvas que atingiu a região.  Porém,  especialistas afirmam que a falta de água não está relacionada apenas à escassez de chuvas. Veja abaixo os cinco principais motivos que estão fazendo as torneiras secarem em São Paulo.
- Falta de planejamento:
Quando o sistema Cantareira foi construído, já era previsto que entre 2015 e 2020 ele precisaria ser ampliado. As obras começaram em 1967. Em 1974, o sistema passou a enviar 4,5 metros cúbicos por segundo e o projeto foi totalmente concluído em 1982. “Todo o projeto tem um prazo esperado para que tenha uma vida útil. No Cantareira a expectativa era que tivesse 30 anos para ser operado”, afirma o especialista em recursos hídricos da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Ilha Solteira (SP), Jefferson Nascimento de Oliveira.
O professor explica que as demandas continuaram, mas a população mudou. “Cresceu não só numericamente mas também economicamente, passou a consumir mais água”, afirma.
Um exemplo deste crescimento, de acordo com Oliveira, pode ser notado com a mudança rápida de uma situação de abundância de água para quase total escassez. “Em 12 de janeiro de 2010, o Cantareira estava com 97% de todo o seu volume. Choveu muito naquela temporada. Estava muito cheio, mas em cinco anos, não só acabamos com o volume todo como precisamos usar água do volume morto. De fato está chovendo pouco agora, mas tínhamos um lastro. A falta de água já era algo previsto”, completa.
 - Desmatamento:
O desmatamento que ocorre na Amazônia tem como consequência sobre a escassez de água em São Paulo. No estudo “O Futuro Climático da Amazônia”, Antônio Nobre, pesquisador do INPE, explica como o desmatamento na Amazônia altera os padrões de chuva no resto do Brasil.
De acordo com o estudo de Nobre, todos os dias as árvores da floresta transpiram 20 bilhões de toneladas de água (ou 20 trilhões de litros), formando uma espécie de rio vertical que alimenta nuvens e altera a rota dos ventos e das chuvas. No caso de São Paulo, foi analisado que os ventos que vêm da floresta amazônica trazem mais chuva que os ventos que não têm relação com a floresta.  Quanto menos árvores na Amazônia, menor é o processo que traz chuvas para a metrópole.
 - Ocupação de área de manancial:
O desmatamento local, no Estado de São Paulo, também tem peso sobre a crise hídrica. Já é sabido que a mata ciliar, aquela na borda dos rios, ajuda a manter a boa saúde (o não assoreamento) dos rios. Portanto, quanto mais degradada a mata ciliar, menos eles contribuem para as bacias hidrográficas.
Um estudo realizado em outubro do ano passado pela Fundação SOS Mata Atlântica mostrou que a cobertura florestal nativa na bacia hidrográfica e nos mananciais que compõem o Cantareira é ainda pior que o que se imaginava, principalmente pela ocupação desenfreada nestas áreas. De acordo com o estudo, restam apenas 488 quilômetros quadrados (21,5%) de vegetação nativa na bacia hidrográfica e nos 2.270 km2 do conjunto de seis represas que formam o Sistema Cantareira.
- Perdas e desperdícios:
Quanto se perde e quanto se desperdiça de água em São Paulo? A balança é importante, pois principalmente com a crise hídrica, toda a água deve ser usada da maneira mais consciente possível. Porém, um antigo problema ainda persiste mesmo com a escassez de água.
De acordo com dados da Sabesp, a região metropolita de São Paulo tem perda de 20 a 25% de água na transmissão, na tubulação. “Chama a atenção que nenhuma ação para reparar estas perdas tenha sido divulgada. Embora existam lugares no Brasil onde este número é ainda mais alto, nós não podemos perder este volume enorme de água. Sabemos que diminuir a pressão é apenas um paliativo. É preciso melhor a transmissão”, afirma a gerente do Instituto Akatu, Gabriela Yamaguchi. 
A campanha fica mais voltada para que o consumo seja reduzido nas residências e que se evite desperdícios, o que também é importante. Especialistas afirmam que com medidas simples é possível economizar 15% de água nas residências.
Gabriela afirma ainda que existem diferentes tipos de grandes consumidores de água, como grandes condomínios, indústria, agronegócio e empresas que necessitam de água para produzir. “O agronegócio é responsável por 80% do consumo de água, de acordo com médias mundiais da ONU [Organização das Nações Unidas]. É aí na verdade que a gente deve ter meta de redução de consumo. Mas isso não é do dia para a noite, tem de ser planejado até porque a gente precisa ter o que comer”, diz. Ela afirma que a redução de desperdício tem de ser objeto em todos os setores e feito de forma planejada. “Não adianta colocar só nas costas do consumidor, que de fato é quem menos consome”, avalia.
- Faltou plano e comunicação da crise:  
A crise da água só passou  a ser  admitida pelas autoridades no início de 2015. A Proteste Associação de Consumidores reclama que além da demora, ainda falta um decreto oficial de racionamento. “Quando tira a água de forma frequente tem de avisar o dia e o horário, mesmo sendo rodízio ou racionamento não oficial”, afirma Maria Inês Dolci, coordenadora institucional da Proteste.  
Se houvesse mais transparência sobre a crise hídrica, explica Maria Inês, o consumidor poderia economizar mais água e por mais tempo. “O bônus não foi suficiente, nós temos realmente falta de água. O Proteste não é contra  a sobretaxa. A gente percebe que está numa crise, mas é preciso deste decreto para que seja cobrada uma cobrança adicional, de emergência”, disse.
Na semana passada, a Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp) aprovou uma tarifa adicional na conta de água de mais de 28 milhões de consumidores atendidos pela Sabesp, em 364 municípios. A sobretaxa será cobrada dos usuários que ultrapassarem a média de consumo registrada antes da crise, de fevereiro de 2013 a janeiro de 2014. “Como o consumidor pode pagar uma tarifa adicional se ele não tem informação sobre este histórico?”, disse.

Redação Redação M C P

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