Pesquisadores brasileiros descobriram na Gruta da Tarimba,
em Mambaí, Goiás, uma nova espécie de peixe troglóbio, que vive exclusivamente
em ambientes subterrâneos, como cavernas.
Batizado com o nome de Ituglanis boticario, ele já é um
peixe ameaçado de extinção, “porque é frágil, tem populações pequenas, é
endêmico de um sistema de cavernas e tem uma série de características que já o
tornam ameaçado”, disse hoje (10) uma das coordenadoras da pesquisa, a
professora Maria Elina Bichuette, da Universidade Federal de São Carlos, em São
Paulo. A descoberta foi descrita em artigo publicado na revista da Sociedade
Brasileira de Zoologia.
Segundo a professora, a pecuária é séria ameaça à existência
dessa espécie de peixe, pois o entorno das cavernas de Mambaí é todo ocupado
pela expansão agrícola, em especial a pecuária, que é bem forte naquela região
de Goiás. A descoberta coloca o Brasil em segundo lugar no ranking global de
peixes subterrâneos, atrás apenas da China, que catalogou 40 espécies de
caverna, enquanto o Brasil registra 28.
Para Maria Elina, a importância da descoberta é ainda maior
para aquela região específica de Goiás, que é um foco forte de diversidade de
peixes subterrâneos, com valor para o país e toda a América do Sul. “Temos ali,
só em uma região de 60 quilômetros quadrados, oito peixes troglóbios. Isso é
extremamente relevante. Coloca a região em destaque na América do Sul.”
A professora disse que o Ituglanis boticario pode ajudar o
governo na elaboração de políticas públicas que protejam a biodiversidade. Para
a região, essa é a primeira espécie de peixe troglóbio descrita. A espécie pode
funcionar como um guarda-chuva. “É uma espécie importante, endêmica, que protegeria
todo o sistema da [Gruta da] Tarimba. Mesmo que não tenhamos descrito todas as
espécies da região, temos essa proteção a priori, porque essa espécie já se
configura como frágil, é superpotencial para exames na lista de fauna ameaçada.
Mesmo não estando na lista, já consideramos [a espécie] ameaçada e tem todos os
elementos para elencar, pelo menos, como vulnerável. Tem ocorrências pequenas e
ameaça no entorno, que é o desmatamento”, explicou.
O peixe descoberto pode subsidiar a criação de uma unidade de
conservação para proteção integral do local, como a proposta pelos
pesquisadores ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio). “Já tem informações suficientes para proteger uma parte dos habitats
ali”. Não há nenhuma unidade de conservação na área. A mais próxima, que é o
Parque Estadual de Serra Ronca, fica a 60 ou 70 quilômetros em linha reta,
disse Maria Elina. O ofício pedindo a criação de uma unidade de conservação
para a região da Gruta da Tarimba foi encaminhado ao ICMBio em novembro de
2014, mas não houve resposta até o momento, acrescentou a pesquisadora.
De acordo com ela, o Ituglanis boticario tem papel ecológico
importante, porque é um predador de topo de cadeia e mantém o equilíbrio de
outros animais da região. “Se eu retiro um predador de topo, posso causar
desequilíbrio, porque teria de controlar todas as outras populações de
animais.”
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