Roberto Carlos dos Santos Gomes é um pastor brasileiro e vive no Níger desde 2009. Em depoimento a Revista Época , ele contou como tem sido a perseguição aos cristãos no país, aflorada pelo atentado terrorista em Paris, em 7 de janeiro.
Segundo ele por volta das 3 horas da tarde no dia 17 de janeiro, uma manifestação de muçulmanos radicais passava em frente a sua casa.
“Eles gritavam e corriam. Haviam acabado de invadir, quebrar e incendiar uma igreja aqui perto de onde eu moro, em Niamey, capital do Níger, país da África Ocidental. Como os muros da minha casa são altos, eu não via nada, mas minha família e eu ouvíamos os estrondos. Só conseguia pensar nas mensagens que recebia de amigos pastores daqui e do Brasil”.
O presidente do Níger, Mahamadou Issoufou, foi um dos seis líderes de países africanos a participar de uma marcha em Paris em sinal de solidariedade aos mortos, no dia 11 de janeiro. Mais de 95% da população nigerina é muçulmana e o ato de Issoufou desencadeou as manifestações.
“Aqui no Níger, eu coordeno as duas igrejas da Igreja Presbiteriana Viva, com sede em Volta Redonda, no Rio de Janeiro. Minha família e eu somos um alvo fácil para qualquer radical muçulmano. Assim, por dois dias depois do sábado, restou-me o isolamento”.
Na segunda-feira de manhã, o pastor, sua esposa e um casal de amigos brasileiros que trabalham para uma ONG cristã, tomaram coragem e saíram de casa.
“Tomamos um carro e saímos todos para conferir a que estado foram reduzidas nossas igrejas. Evitamos as ruas principais, onde eu supunha que poderíamos deparar com radicais anticristãos. Nossa igreja mais próxima estava parcialmente destruída e queimada. Imagino que alguns rebeldes carregaram cadeiras, portas, armários. Outros removeram as janelas e os ventiladores. Os mais ousados arrancaram o chão. Empilharam tudo em frente à igreja. Quando cheguei lá, vi que tudo fora reduzido a cinzas. Restaram apenas um fogão e uma geladeira intactos. A mim, sobrou a tristeza”.
Na sede da igreja a destruição foi ainda maior. A igreja foi queimada por dentro.Em uma casa anexa à igreja, que também pertencia a igreja e onde moravam alguns zeladores, roubaram tudo que havia lá. Da igreja, sobrou apenas a cobertura. Da casa, os muros. Os zeladores salvaram-se porque saíram antes que os manifestantes chegassem.
“Também fui informado de que, naquele sábado, mais de 40 igrejas cristãs haviam sido invadidas, depredadas, saqueadas e incendiadas. Pelas ruas da cidade, não ficou de pé nenhum restaurante, bar ou escola que fosse ligado aos cristãos ou à França. O Níger foi uma colônia francesa até 1960. De resto, os nigerinos muçulmanos pareciam continuar a tocar a vida como se nossas igrejas destruídas fossem um mero detalhe mórbido. Houve mais indiferença em relação a nossa sorte. Do governo do Níger, não veio nenhuma ajuda ou palavra de solidariedade como o líder Issoufou prestara à França dias antes. Foi por medo?”.
Apesar de todas as dificuldades, uma delas encontrar um espaço para começar a igreja, pois a maioria dos proprietários de imóveis eram muçulmanos. Eles conseguiram construir as igrejas, e regularizá-las junto ao governo nigerino.
“Agora, vamos reconstruí-las. Farei isso sem mágoas nem rancor. Conheço vários nigerinos, com quem fiz amizade. Do mecânico de carros ao padeiro da esquina. Todos eles muçulmanos. Todos eles gentis e amigáveis. Comovidos, vários deles me disseram que teriam corrido à igreja para defendê-la dos ataques se soubessem quais eram os alvos dos manifestantes com antecedência”.
O pastor Roberto Carlos Gomes, afirma que mesmo perseguido ama o povo nigerino.
“Posso dizer que amo esse povo, mesmo que alguns nos persigam. Deus faz da cristofobia um motivo de alegria. A igreja é como um bambu. Quanto mais você corta, mais ela cresce, com mais força e mais vigor. Quanto mais nos perseguirem, mais nós cresceremos. Não estou aqui como um turista que tira fotos e vai embora. Estou aqui por um chamado de Deus. Muitos de meus amigos muçulmanos nigerinos não sabem quem é Jesus Cristo. Eles me dizem: “Ah, ele é um americano!”. Outros me perguntam: “Seria um francês?”. Palavras como essas me fazem acreditar que minha missão não acabou. Continuarei a pregar a palavra de Jesus”.
Fonte: verdadegospel
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