Segundo o juiz Marcos Josegrei, o ex-diretor da Área Internacional da Petrobras prossegue com "sanha delitiva", mesmo após ter sido investigado na Operação Lava Jato, da Policia Federal
Na decisão em que decretou a prisão do ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, o juiz Marcos Josegrei da Silva, da Justiça Federal em Curitiba, disse que o acusado prossegue com sua "sanha delitiva" mesmo após ter sido investigado pela Policia Federal na Operação Lava Jato.
No despacho, o juiz afirmou que Cerveró está blindando o patrimônio e transferindo bens para seus parentes porque corre o risco de ser responsabilizado pelos desvios na Petrobras.
"Mesmo após figurar como investigado em inquéritos policiais e denunciado em ação penal, prossegue sua sanha delitiva e, como sugere o MPF em sua promoção, parece mesmo não enxergar limites éticos e jurídicos para garantir que não sofra as consequências penais de seu agir, o que pode, no limite, transbordar para fuga pessoal, caso perceba a prisão como uma possibilidade real e iminente”, disse o juiz.
De acordo com relatório do Conselho de Controle de
Atividades Financeiras (Coaf), no dia 16 de dezembro, Cerveró sacou R$ 500 mil
em um fundo de previdência privada e transferiu o valor para sua filha, mesmo
tendo sido alertado pela gerente do banco de que perderia 20% do valor. Em
junho do ano passado, Cerveró ainda transferiu imóveis para o nome de seus
filhos, com valores abaixo dos de mercado. Na intepretação do Ministério
Público Federal (MPF), o ex-diretor tentou blindar seu patrimônio, e, por isso,
a prisão foi requerida.
O juiz também afirmou que Cerveró foi beneficiário de
propinas pagas em “quantias estratosféricas” por fornecedores da Petrobras, que
podem estar depositadas em contas offshore fora do país, mas ainda não foram
identificadas.
“Certamente, a quantidade colossal de dinheiro ilícito que
recebeu não serviu para mera contemplação dos números em extrato bancário
emitido por uma agência em paraíso fiscal. Para aqueles que o percebem
indevidamente, existe sempre algum trabalho a ser feito com vistas a seu
branqueamento ou ocultação. Talvez por aí se expliquem aquisições de imóveis em
bairros nobres por valores nominalmente baixos, gastos expressivos em espécie
ou pagamentos com cartões internacionais. Ou, mesmo, morar em um apartamento
avaliado em R$ 7,5 milhões, de propriedade de uma empresa offshore",
argumentou o juiz.
Cerveró foi preso na madrugada de hoje no Aeroporto
Internacional do Rio de Janeiro - Galeão/Antonio Carlos Jobim, após desembarcar
de um voo proveniente de Londres. Ele foi encaminhado para a Superintendência
da Polícia Federal em Curitiba, onde outros investigados na Lava Jato estão
presos.
O advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, disse que não houve
ilegalidade na transferência de bens para parentes e estranhou a prisão de seu
cliente. “Desde 1º de abril coloquei o Nestor Cerveró à disposição tanto do
Ministério Público quanto da Polícia Federal e nenhum dos dois órgãos se
interessou em ouvi-lo. Até ontem [13], ninguém o havia procurado. Além disso,
quando ele foi para a Inglaterra, comuniquei ao Ministério Público e à Polícia
Federal que ele estava viajando e que voltaria em janeiro. Deixei, inclusive, o
endereço onde ele estava”, afirmou.
O ex-diretor da Petrobras ainda é acusado de atuar com o
empresário Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, para cobrar propina
de empresas que tinham contrato com a Petrobras.
Em depoimento de delação premiada, o empresário Júlio Gerin
de Almeida Camargo afirmou que pagou U$ 40 milhões a Fernando Baiano para
intermediar a compra de sondas de perfuração para a Petrobras. Para fechar o
negócio, o delator disse que procurou o Soares "pelo sabido bom
relacionamento" dele nas áreas Internacional e de Abastecimento da
empresa, dirigidas à época por Nestor Cerveró e Paulo Roberto Costa,
respetivamente.
agencia brasil
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