O doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava Jato,
disse, em depoimento de delação premiada, que pagou propina a João Abreu, que
foi chefe da Casa Civil do Maranhão, quando Roseana Sarney governava o estado.
Conforme Youssef, a "comissão" tinha por objetivo favorecer a
empreiteira UTC/Constran com a liberação de um precatório de R$ 110 milhões,
referente a obras de pavimentação da BR-230 na década de 1980.
De acordo com o doleiro, a UTC tinha interesse em receber
rapidamente o precatório, que poderia levar anos para ser pago pelo governo.
Conforme o depoimento de Yousseff, ficou acertado que Abreu receberia R$ 3
milhões dos R$ 10 milhões pagos pela empresa, que dividiu a quantia em 24
parcelas.
Youssef disse que, em 2013, viajou a São Luís, em avião
fretado, para levar uma parcela de R$ 1,4 milhão ao ex-chefe da Casa Civil, mas
foi preso pela Polícia Federal antes de entregar o dinheiro. Segundo ele, a
outra parte foi levada por Adarico
Negromonte e Rafael Ângulo, presos na Lava Jato por transportarem dinheiro a
mando do doleiro.
No depoimento, Alberto Youssef afirmou que não sabe se João
Abreu chegou a consultar a então governadora Roseana Sarney sobre o acordo. À
Polícia Federal, o doleiro também declarou que não sabe se outras pessoas
estariam envolvidas no acordo.
Em mensagem de texto interceptada pela PF com autorização
judicial, os diretores da UTC Walmir Pinheiro e Augusto Cesar Ribeiro
comemoraram com Youssef o fechamento do acordo para o pagamento das parcelas.
"Augusto e Primo [Youssef]. Parabéns pela concretização
do acordo com o gov. MA [governo do Maranhão] . Sei perfeitamente quanto foi
duro fechar esta operação. Foram quase seis meses de idas e vindas. Com o
recebimento da primeira parcela, agora é torcer para que o MA honre com as
demais parcelas. Grande abraço."
Em seguida, Youssef respondeu: " Walmir, obrigado, mas
todos merecem parabéns. Sem a ajuda de todos envolvidos, não seria possivel
esse acordo. Vamos seguir cuidado até que termine com sucesso. Abraço."
Atendendo a pedido da Secretaria de Transparência e Controle
do Estado do Maranhão, o juiz federal Sérgio Moro, responsável pela
investigação da Lava Jato, autorizou o compartilhamento do depoimento.
A Agência Brasil entrou em contato com a UTC e aguarda
retorno. João de Abreu afirma que não houve pagamento de nenhuma vantagem e que o acordo, também celebrado com
representantes do Ministério Público e do Poder Judiciário, trouxe economia de
R$ 28,9 milhões ao estado.
Mais tarde, em nota à imprensa, a UTC explicou que não houve
irregularidade no pagamento do precatório. "A Constran não foi beneficiada
por nenhuma antecipação de pagamento no Maranhão. Como primeira na fila dos
precatórios do estado, teria direito a receber o valor integral da dívida à
vista. Dívida essa gerada por obras rodoviárias executadas nos anos 80. Em
1993, a Constran entrou na Justiça. Em 2010, a dívida do governo virou um
precatório por decisão do Poder Judiciário. Em 2013, quase três décadas após a realização da obra,
e quando a Constran era a primeira da fila dos precatórios, o governo do estado
do Maranhão propôs pagar o valor devido parcelado em 24 meses, sem juros e sem
correção. Com o propósito de encerrar uma discussão e evitar mais protelamento,
a empresa concordou com uma proposta apresentada pelo gestor público. Como é de
conhecimento público, é impossível furar a fila do pagamento dos
precatórios", disse a empresa.
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