Tucanos esperam apoio da ala rebelde do PMDB para criar nova
CPI da Petrobras e barrar na Câmara medidas do pacote fiscal do governo
A vitória do líder do PMDB, Eduardo Cunha, na eleição para a
presidência da Câmara foi motivo de uma comemoração calorosa na ala rebelde da
base aliada e abriu caminho para uma ofensiva da oposição na largada da nova
legislatura. Na noite de ontem, quando o plenário da Câmara começava a se
esvaziar, líderes do PSDB não disfarçavam a alegria com o resultado da votação,
que deu ao peemedebista a vitória no primeiro turno, contra o petista Arlindo
Chinaglia (PT-SP).
Poucos minutos após a
votação, os tucanos já desenhavam a estratégia para as próximas semanas. O
primeiro passo será tentar aprovar a criação de uma nova CPI da Petrobras,
pegando embalo no desgaste provocado no governo pelas denúncias de corrupção
desvendadas pela Operação Lava Jato. No mesmo pacote, oposicionistas consideram
como “amplamente favorável” o ambiente para derrubar o veto da presidente Dilma
Rousseff à correção da tabela do imposto de renda e barrar as principais
medidas previstas pelo Planalto dentro do pacote fiscal preparado pela equipe
econômica.
Uma medida que deve receber atenção especial é a revisão de
critérios de pagamento de benefícios trabalhistas, como o seguro desemprego.
Além disso, a oposição espera aprovar o quanto antes o Orçamento impositivo,
que obriga o governo a executar emendas parlamentares.
Prestes a entregar a liderança do PSDB na Câmara para o
deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), o líder tucano Antonio Imbassahy (BA) dava o tom que deve predominar na largada da
nova legislatura. “Acho que esse
resultado tem a ver com o humor da população que se refletiu aqui. Está todo
mundo P… da vida com a presidente, que mentiu durante a campanha e que permitiu
um nível de corrupção nunca antes vista", disse Imbassahy, logo após a
votação.
Apesar da comemoração, PSDB considera que entregou o que
prometeu a Júlio Delgado (PSB-MG), com cerca de 50 votos em favor do
socialista, que saiu derrotado da disputa. Segundo os tucanos, só quatro
integrantes da bancada traíram a orientação. O presidente do partido, Aécio
Neves (PSDB-MG), patrocinador da aliança com Delgado, telefonou para aliados na
Câmara para saber mais detalhes da articulação. Aécio, segundo interlocutores,
estava “transbordando de felicidade” com o resultado.
Leia também: PMDB tem maior bancada da Câmara dos Deputados
No governo, pesou o fato de Chinaglia ter sido derrotado no
primeiro turno, derrubando a expectativa do Planalto de que a eleição poderia,
ao menos, se decidir numa segunda etapa de votação. Nos últimos dias, o governo
tentou sem sucesso mobilizar ministros para tentar atrair o apoio ao petista e
evitar que a traição na base superasse um nível “razoável”.
O plano, agora, é tentar ampliar o diálogo com o PMDB de
Eduardo Cunha. O governo apoia parte das esperanças no vice-presidente Michel
Temer, que será incumbido de liderar a ação para controlar a ala rebelde do
PMDB. A esperança, de acordo com auxiliares da presidente, é de que Cunha possa
evitar de cara um embate duro demais com o governo e opte por um diálogo com a
articulação política.
Logo após a votação, o ministro das Relações Institucionais,
Pepe Vargas, dizia que o momento era de “saudar o vencedor” e exaltava o fato
de Cunha ser, a rigor, um representante de um partido que é aliado preferencial
do governo. “Vimos aqui uma manifestação soberana das duas Casas”, disse
Vargas, admitindo que Cunha demonstrou “maior capacidade de articulação”. “Mas
o Eduardo Cunha é um integrante de um partido que pertence à coalizão. Não há
um conflito”, repetia o ministro.
Segundo escalão
Parte das expectativas se voltam, agora, para a conclusão da
montagem do segundo escalão. Dilma orientou a articulação política do governo a
segurar todas as nomeações até que se encerrasse a eleição na Câmara. Vargas
empenhou-se em minimizar as expectativas de que haverá retaliação na conclusão
das indicações. “Agora, podemos montar o segundo e o terceiro escalão sem
receio”, disse o ministro. “O governo não tem porque retaliar. O voto é secreto
e a decisão da Câmara foi soberana”, minimizou Vargas.
Dentro da bancada do PT, o clima após a eleição era de
decepção. Antes da votação, petistas
reconheciam que a tendência era de vitória de Eduardo Cunha, mas havia a
perspectiva de que Chinaglia poderia ao menos levar a disputa para o segundo
turno. Seria uma derrota “menos feia”, diziam líderes petistas. “Lamentamos o
resultado, mas esperamos que a nova mesa tenha juízo”, disse o líder do PT na
Câmara, Vicentinho (SP).
Nos corredores, as críticas à fragilidade da articulação
política do governo eram recorrentes. Petistas se queixavam especificamente da
falta de traquejo da presidente Dilma Rousseff com o Congresso e da dificuldade
de estabelecer um diálogo direto entre o Planalto e os parlamentares.
No PMDB, o discurso era de oposição. Integrantes do partido
diziam entusiasmados: “Melhor do que vencer, é vencer o PT”. E o momento foi de comemoração. Integrantes
da bancada saíram da Câmara diretamente para uma festa organizada no Lago Sul,
bairro nobre de Brasília.
Deixe Seu Comentário
Postar um comentário